Um sonho americano

Ele era um pobre menino rico e sabia bem disso. Há anos deixara o conforto de sua suntuosa casa graças aos desentendimentos que vinha tendo com sua progenitora, a qual, segundo ele, nunca o amou nem o aceitou de fato. Ao sair, levara consigo uns trocados que pouco duraram e logo, então, teve de pedir esmolas.
Certa vez, em frente ao consulado americano, o menino lá estava estirado ao chão rogando aos pedestres o pão daquele dia. Foi aí, quando de repente ele viu um homem e duas mulheres, todos bem arrumados, conversando em um português muito mal falado devido ao sotaque estrangeiro, adentrando ao prédio do consulado. Nesse instante, como num momento de epifania, o garoto decidiu mudar de vida. A cena que assistira lhe comovera ao ponto dele querer voltar pra casa. E assim o fez.
Chegando ao lar, reconciliou-se com a mãe. Ainda que não por sinceridade, pediu desculpas. Fizeram as pazes e o garoto voltou a estudar. Era o inglês a sua matéria preferia. Tal preferência justificava-se plenamente devido aos planos ocultos que ele tinha.
Passado um ano, tamanho fora seu empenho, ele já estava fluente na língua universal do ocidente. Retornou, pois, ao consulado a fim de realizar seu verdadeiro objetivo, o qual, a cada dia, tornava-se um sonho mais forte. Pediu licença. Dessa vez, cheiroso e bem vestido, ele pode entrar. Procurou a miúdo o homem que vira fazia um ano e logo o encontrou sentado no fundo da sala. Sem pudor, o menino o chamou. Curioso, o rapaz foi prontamente atendê-lo. Em poucas palavras, o garoto tirou do bolso uma carta e entregou ao americano. Nos escritos, dentre outras palavras a esmo, havia um convite para jantar.

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