Artigo do musical Avenida Q

O “Avenida Q” trata, sobretudo, da vida em sociedade e, portanto, das diversas relações humanas extremamente pitorescas. Sendo que, nesse musical da Broadway, o mundo é composto pela interação entre pessoas e bonecos, que vivem cenas inteligentes e repletas de humor politicamente incorreto. Abordando temáticas bem distantes do universo infantil como pornografia na internet, bebidas, questões sexuais, discriminação racial, etc., a peça não é, portanto, recomendada para crianças. Em dados momentos, há, inclusive, cenas de sexo explícito (entre bonecos, é claro!).
As cortinas abertas antes mesmo do início do espetáculo promovem no público uma enorme expectativa, visto que o cenário é bonito, grandioso e bastante detalhado. Quando o musical começa, o elenco muito bem afinado (com uma exímia interpretação vocal e expressões corporais certeiras) consegue transmitir vida às marionetes de uma maneira inédita. A bela iluminação, por sua vez, através de uma vasta variedade de cores e estilos, facilita com que o espectador mantenha o foco naquilo que é desejado.
As duas horas e meia de peça passam num piscar de olhos tamanha a leveza e a irreverência da história e das músicas que foram muito bem adaptadas ao contexto brasileiro. Por isso, são raros os diálogos em que o texto apresenta-se distante da nossa realidade.
O enredo é sobre o rumo da vida do jovem Princeton, recém-formado e sem emprego, que, na busca por um aluguel barato, acaba encontrando moradia na Avenida Q. Lá moram o Rod e o Nick, os quais compartilham um quarto e vivem numa dinâmica acerca da sexualidade de Rod. Existe ainda a bela mosntrinha Kate, que é professora primária, e um louco casal formado por uma imigrante, a Japaneusa, e um comediante desempregado, o Brain. Não tem como esquecer também do hilário monstro Trekkie, dos bonitinhos ursinhos do mal, do atual zelador e exfamoso ator mirim Gary Coleman e, principalmente, da majestosa Lucy de Vassa, uma cantora promíscua que diz: “Culpa é para amadores!”
Pra quem quer dar boas risadas assistindo a uma comédia diferente dos saturados “stand ups comedies”, o musical Avenida Q é a escolha correta. Vale a pena conferir e aprender um pouco mais sobre a vida com esses bonecos divertidíssimos.

Epifania

Eu entrei na igreja, sentei no banco, olhei para o púpito e, então, eu era criança novamente:

"Não! Não construa sua casa na areia
Não! Não construa na beira do mar
Mesmo que pareça chique
È impossível que ela fique
A tempestade a vai derrubar

A rocha é o lugar de construir
Tem um alicerce forte
Que não vai cair
As tempestades vão e vem
Mas a paz de Cristo tu tens"


Voltei. Sentado, descobri que não construi nem casa nem nada.

Receita

Dizem que no fim tudo sempre dá certo. O fato é que no fim todos morrem. A morte é, pois, a maior garantia do sucesso.

Confessionário? Só no Big Brother.

Pode parecer insano ou, até mesmo, profano, mas religião agora tem tudo a ver com ciência. Desde que o Vaticano criou em 2000 o Gli scienziati della fede -comunidade científica formada por seminaristas católicos com o objetivo de desenvolver experimentos relacionados aos feitos da fé- o mundo encontra-se diante de uma iminente reviravolta espiritual. E, ao que parece, esse momento chegou.
A assessoria de imprensa do Estado do Vaticano acaba de revelar a mais nova invenção tecnológica mundial: o depuratore. Esse pequeno aparelho parecido com um celular passaria despercebido em meio aos tantos outros eletrônicos digitais já inventados se não tivesse a exótica função de ouvir as confissões dos fieis e atribuir-lhes, em seguida, as penitências e os conselhos necessários. Através de um sistema bem similar aos utilizados nas modernas empresas de atendimento ao consumidor, a máquina é programada para identificar por intermédio da fala do usuário os pecados cometidos e, então, responder ao mesmo da maneira mais adequada de acordo com os princípios do catolicismo. A recente criação do Gli scienziati della fede trata-se, na verdade, da substituição do tradicional confessionário por um instrumento portátil que cabe no bolso e utiliza a luz solar como fonte de energia.
Em uma entrevista coletiva, o padre e cientista italiano Giuseppe Trajani, responsável pela junta inventora desse equipamento, declarou que o advento do depuratore pode ser igualado em relevância para o Cristianismo ao famoso episódio ocorrido no Mar Vermelho. Ele explicou que a portabilidade característica desse acessório religioso facilita aos milhões de católicos espalhados pelo globo o exercício da confissão, contribuindo, assim, para o aumento na prática desse dogma tão importante dentro da fé católica.
Vale destacar que atribuir a uma máquina a responsabilidade de fazer julgamentos e manter segredo soa bastante conveniente numa época na qual ouvimos, com frequência, acusações de pedofilia e petições de reconhecimento de paternidade a padres em diversas regiões do planeta. Por isso, já há quem diga que o depuratore nada mais é senão uma manobra do Vaticano com o intuito de não perder seus seguidores diante de tantos escândalos ocasionados pela falibilidade do clero.
No momento, o aparelho só está disponível para os falantes do inglês, espanhol ou italiano. Contudo, até dezembro deste ano, o Vaticano promete produzir cerca de dezessete milhões de depuratores, funcionando em vinte e três idiomas diferentes.
Frente a tudo isso, será que poderíamos dizer que Fritz Lang no começo do século passado, involuntariamente, previra o destino da humanidade no filme Metrópolis? Estaríamos todos nós, num futuro próximo, subjugados a uma deusa eletrônica que nos exigirá servidão eterna? Fica, portanto, em aberto as inúmeras previsões as quais só o tempo poderá revelar.