METEOROLOGIA

Ai, que nervoso! O tão esperado Turbilhão de Emoções acaba de atingir as fronteiras do meu território. Seus efeitos já podem ser percebidos por qualquer observador da vida alheia, desses tantos que temos por aí. A tempestade avança em direção ao cerne do meu espaço físico, ousando uma aproximação em velocidade progressiva e acelerada ao Órgão Regulamentador das minhas políticas sociais, que nem sempre são tão politizadas. Por conseqüência dessa movimentação, em todos os meus cantos sente-se um misto de frio e de calor. Ora um, ora outro, ora um paradoxo, no qual ambos coexistem.
Vale ressaltar, contudo, que até o momento é impossível avaliar os danos provocados pelo Turbilhão. Não se sabe, inclusive, se ele surtirá, no fim, o caos absoluto de uma região totalmente devastada ou a paz triunfante decorrente da vitoriosa calmaria após um longo período de agitação.

CONFISSÃO

Não espere um bom texto claro e conciso, pois tudo que aqui se narra vem do coração. Portanto, não tenha vergonha, caso te pareça melhor, desista logo desta leitura que leva ninguém a lugar algum.
Odeio o tom melancólico, mas faz-se necessário, visto que se trata de uma confissão. Essa coisa amarga que expurgo agora, lançando-a boca-a-fora, arrepia-me até o cerne do meu sei lá o quê.
Meu sonho é ser trainee. Minha ilusão, ver meu pós-morte.
Ah... se tudo isso fosse concreto! Certamente, não mais haveria dúvidas, questionamentos, até mal do Barroco ousaria falar. Contudo, permanece a abstração. Eu, aqui, intensamente sozinho, completamente nu, desinformado, clamando por resposta ao futuro que se finge de mudo.
Nasci diferente assim como os outros que já sofreram pelo peso da consciência obscura (subjugada pela nossa amada sociedade). Cresci para me consertar, porém meu concerto insiste na desafinação. Mas Quem inventou a música deixou sua assinatura em letras visíveis ao olho despido dos homens limitados dessa terra fedida?
Mesmo sem resposta é preciso viver; matar um ou mais leões por dia. Pior de tudo em vida é quando ela esconde consigo tais animais ferozes os quais se constituem como seres intrínsecos ao desenvolvimento de tudo que é preciso para chegar aos mais altos patamares, onde a realização é verdade e pintada bem colorida.
Quero o palco, anseio pelo amor, necessito da correspondência. Almejo o dia em que a carta chegará, trazendo minha alforria, permitindo-me, pois, coabitar aos escravos da carnificina. Tenho meus vícios ocultos, revelados a cada instante, mas os cegos todos que me cercam são incapazes de perceber.
A paixão toma meu peito, a racionalidade perde espaço e entrego-me ao caos da mancha urbana indefinida que pranteia meu coração. Não sei de nada! E os outros sabem menos ainda. Sobretudo, é fato que não sou louco. Aliás, qual seu olhar sobre normalidade/anormalidade? Conte-me agora, pois fui traído pela traição. Exemplos, hoje, não me faltam; mas, quando mais precisamos, levam nossos objetos que secretamente pulsam o sangue na bomba vermelha de emoção.
As linhas autolimitam o pensamento. O espaço, o tempo e o estudo deles regem meu conhecimento que desconhece o principal: a mim mesmo! De que me adianta o “diretório” se não estou habilitado a dirigir meus passos?
Em suma, o “cabe, pois” não cabe aqui. Não tem solução.
E agora? Aguardo em silencio e mau-humorado, porque falar besteira é coisa de criança, do meu pretérito inocente refugiado nos atos impensados. Quietinho quem sabe, talvez, convenço-o a soltar o verbo que aprisiona meu corpo a todo esse imundo pedaço de chão azedo.

BANANAS

Havia Dona Joaquina. Era uma senhora distinta como todas as outras de sua idade. Seus cabelos brancos denotavam uma vida repleta de experiências e aprendizados. Contudo, enquanto ainda vivia, ninguém jamais previra que a senhora em questão tinha uma compulsão, a qual foi responsável pela sua ruína. Dona Joaquina era viciada em bananas; degustava várias por dia, todos os dias, sentindo um prazer indescritível em cada mordidela. E, por ser distinta, não fazia distinção de espécies. Para ela, não importava o tipo nem a maturação do fruto. Vale ressaltar que Dona Joaquina não dispensava sequer as bananas nanicas.
A história de vida de Dona Joaquina se encerra com sua morte. A coitada, que sempre rogava a Deus por fartura, não cultivara nenhuma bananeira farta em seu quintal. Dessa forma, com o passar do tempo já não possuía mais vigor para sair às feiras a procura de boas bananas. Entrou, então, numa grave crise de abstinência, sofreu muito, resolveu desabafar seu segredo num manuscrito a fim de que pudesse se sentir aliviada. Nada adiantou. Ela virou adubo de bananeira.
A estória de Dona Joaquina se inicia com sua morte. Reza a lenda, que a alma da nossa distinta senhora, tão logo soltou do corpo, emergiu aos altos céus acreditando que adentraria ao paraíso. Estava feliz, porquanto cria também que nessa outra vida haveria um bananal sem fim. Entretanto, Deus embargou sua entrada. Afinal, onde já se viu mulher viciada em banana habitando no céu junto a outras tantas santas?

Canção do Exílio

Conheci você na última semana
E não paro mais de pensar em ti
Nossos destinos se cruzaram estranhos
Trocamos olhares, mas nem percebi

Você persistiu em me conquistar
Tão logo que vi, me excitei
Seus lindos olhos da cor do mar
Eram tudo que sempre sonhei

Com vontade foi o nosso amor
Loucura cinética de braços e abraços
Seu direito torto me fez todo errado
Sem hesitar, avancei nos passos

E, agora, estou todo quebrado
Tropecei, caí feio por andar afobado
Aprendi, ao menos, a lição do tesão
Se ele não sai da cabeça, te deixa no chão