CONFISSÃO

Não espere um bom texto claro e conciso, pois tudo que aqui se narra vem do coração. Portanto, não tenha vergonha, caso te pareça melhor, desista logo desta leitura que leva ninguém a lugar algum.
Odeio o tom melancólico, mas faz-se necessário, visto que se trata de uma confissão. Essa coisa amarga que expurgo agora, lançando-a boca-a-fora, arrepia-me até o cerne do meu sei lá o quê.
Meu sonho é ser trainee. Minha ilusão, ver meu pós-morte.
Ah... se tudo isso fosse concreto! Certamente, não mais haveria dúvidas, questionamentos, até mal do Barroco ousaria falar. Contudo, permanece a abstração. Eu, aqui, intensamente sozinho, completamente nu, desinformado, clamando por resposta ao futuro que se finge de mudo.
Nasci diferente assim como os outros que já sofreram pelo peso da consciência obscura (subjugada pela nossa amada sociedade). Cresci para me consertar, porém meu concerto insiste na desafinação. Mas Quem inventou a música deixou sua assinatura em letras visíveis ao olho despido dos homens limitados dessa terra fedida?
Mesmo sem resposta é preciso viver; matar um ou mais leões por dia. Pior de tudo em vida é quando ela esconde consigo tais animais ferozes os quais se constituem como seres intrínsecos ao desenvolvimento de tudo que é preciso para chegar aos mais altos patamares, onde a realização é verdade e pintada bem colorida.
Quero o palco, anseio pelo amor, necessito da correspondência. Almejo o dia em que a carta chegará, trazendo minha alforria, permitindo-me, pois, coabitar aos escravos da carnificina. Tenho meus vícios ocultos, revelados a cada instante, mas os cegos todos que me cercam são incapazes de perceber.
A paixão toma meu peito, a racionalidade perde espaço e entrego-me ao caos da mancha urbana indefinida que pranteia meu coração. Não sei de nada! E os outros sabem menos ainda. Sobretudo, é fato que não sou louco. Aliás, qual seu olhar sobre normalidade/anormalidade? Conte-me agora, pois fui traído pela traição. Exemplos, hoje, não me faltam; mas, quando mais precisamos, levam nossos objetos que secretamente pulsam o sangue na bomba vermelha de emoção.
As linhas autolimitam o pensamento. O espaço, o tempo e o estudo deles regem meu conhecimento que desconhece o principal: a mim mesmo! De que me adianta o “diretório” se não estou habilitado a dirigir meus passos?
Em suma, o “cabe, pois” não cabe aqui. Não tem solução.
E agora? Aguardo em silencio e mau-humorado, porque falar besteira é coisa de criança, do meu pretérito inocente refugiado nos atos impensados. Quietinho quem sabe, talvez, convenço-o a soltar o verbo que aprisiona meu corpo a todo esse imundo pedaço de chão azedo.

1 comentários:

Anônimo disse...

Eu sempre leio e nunca comento. Hoje preciso dizer: O texto está MARAvilhoso e muito claro. Embora você tenha dito que está sem noção, foi o que mais gostei.
Parabéns! ;)

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