A Coca-cola que se cuide...

A historiografia revela que, por um longo período, a Índia recebeu destaque de âmbito mundial devido aos produtos oriundos dessa região. O nascimento e os primeiros passos do Brasil, inclusive, se dão como fator coadjuvante da busca por um bom caminho que conduzisse à extraordinária terra das sedas e das especiarias. Em nossos dias, tais produtos perderam seu valor primitivo; contudo, a Índia mantém-se eminente no tocante às suas especialidades.
A cidade de Haridwar, onde se encontra a maior concentração de Rashtriya Swayamsevak Sangh (um dos mais notórios grupos culturais hindus), tem chamado a atenção de todo o planeta em virtude da recente invenção dos RSS: o refrigerante Gau Jal, que em português quer dizer água de vaca.
O nome excêntrico da bebida é, na verdade, pouco criativo. Isto por que o refrigerante trata-se de uma mistura química feita basicamente com urina de vaca e conservantes. A quente bebida servida estupidamente gelada é, de acordo com os seus inventores, uma alternativa mais refrescante, pura e saudável aos tradicionais refrigerantes à base de cola que dominam o mercado. Segundo Om Prakash, um dos principais líderes religiosos do RSS e representante comercial da empresa responsável pela produção do refrigerante em questão, o Gau Jal chegará às prateleiras ocidentais em pouco tempo e, tão logo, protagonizará as refeições de milhões de famílias desse canto do globo.
Especialistas de Oxford comentaram sobre a novidade através de uma entrevista a um famoso tablóide inglês. Eles alegaram que a urina dos bovinos é altamente nutritiva e apresenta, inclusive, propriedades curativas a problemas como, por exemplo, os relacionados a distúrbios gastro-intestinais. Além disso, eles brincaram contando uma curiosidade a qual, certamente, interessa bastante aos fãs do uso de métodos afrodisíacos: as vacas são quadrúpedes detentoras da habilidade de subir escadas, mas são incapazes de descê-las.
Por mais que esse fato pareça totalmente inédito quanto ao quesito “nojeira”, vale ressaltar que se acredita que a maior rede de fast-foods dos Estados Unidos utilizou anelídeos terrestres (vulgarmente conhecidos por minhocas) como base no preparo da carne dos hambúrgueres e nem por isso teve seu sucesso ameaçado.

Silêncio!

É que eu prefiro ficar bem quieto a ter que partilhar minhas angústias com os outros.

Luz, câmera e armação!

Vamos fazer como na TV
Está tudo combinado
E por ter sido ensaiado
O final é lindo de viver

A noite em que fiquei sozinho sem ter com quem conversar.

Era noite (como o título já bem disse), uns estavam pelas ruas, outros já pelas camas dormindo e havia ainda aqueles que, certamente, estavam pelas camas das ruas bem acordados. Eu, em casa, sem ter com quem conversar, resolvi me conhecer.
Tomei um banho gostoso (daqueles que duram horas), passei meu perfume mais cheiroso, pus uma roupa nova e fui passear. A distância era pouca e sequer peguei engarrafamento. Tudo isso conspirou para o meu bom humor quando cheguei à sala. O ambiente, não sei ao certo o porquê, era bastante aconchegante e familiar. Decidi pedir uma cerveja bem gelada, visto que estava quente. Contudo, o atendimento no local era self-service e, por isso, eu mesmo tive que ir à cozinha pegá-la. Bebi uma, duas, três e parei por aí.
Lá pelas tantas comecei um diálogo, o qual tem na sua existência a real inspiração para esse texto. Primeiro, me cumprimentei sorridente, exaurindo simpatia por meio desse meu sorriso encantador que de cara me conquistou. Em seguida, perguntei meu nome, se eu ia sempre ali... enfim, aqueles clichês típicos de quem está a fim de alguém, mas não quer ser demasiadamente objetivo pra não causar espanto. Conversa vai, conversa vem... descobri que tinha muita afinidade comigo mesmo. Incrível! Gostava das mesmas coisas, tinhas os mesmos interesses e opiniões... Confesso: fiquei fascinado com o meu papo!
Já tinha falado demais e, portanto, havia chegado a grande hora da noite. Sem hesitar, num momento de silêncio, avancei o passo e tasquei-me um beijo. Ele durou pouco, serviu apenas pra dar início ao que estava por vir. Não tardou e me beijei novamente. Em movimentos sincronizados, eu me pegava e sentia calores sem precedentes. Um fogo me consumia... era incontrolável! Convidei-me para ir ao quarto, onde eu poderia ficar ainda mais à vontade, sendo que não queria perder aquele momento único de prazer e, em virtude disso, não conseguia nem mover meus pés em tom de deslocamento. Permaneci por ali. Tirei a blusa. Desabotoei a calça. Lancei meu tênis longe. Estava preparado para receber meu corpo e ter, então, a melhor noite da minha vida.
Entretanto, a iminência do clímax, meu pai apareceu e esbravejou. Com voz de condenação, repudiou a minha atitude com uma feracidade apavorante. Tive que me recompor rapidamente. Vesti minha roupa às pressas e saí dali morto de vergonha. Foi horrível! Fugi de mim e nem consegui dar o numero do meu telefone.
Agora, é outra noite e também estou só. Queria me encontrar novamente, mas tenho medo de ser descoberto e receio do que eu possa estar pensando sobre mim.

CASAL DE NAMORADOS

Risos sem piada. Isto porque é amor, não precisa de mais nada. Por isso, passam sorridentes, de mãos dadas, alheios ao resto do mundo, cegos com os olhares de fogo vermelho e brando que aquecem e refrigeram o corpo, o coração, a alma...
E eu aqui morno. Que inveja!