Confessionário? Só no Big Brother.

Pode parecer insano ou, até mesmo, profano, mas religião agora tem tudo a ver com ciência. Desde que o Vaticano criou em 2000 o Gli scienziati della fede -comunidade científica formada por seminaristas católicos com o objetivo de desenvolver experimentos relacionados aos feitos da fé- o mundo encontra-se diante de uma iminente reviravolta espiritual. E, ao que parece, esse momento chegou.
A assessoria de imprensa do Estado do Vaticano acaba de revelar a mais nova invenção tecnológica mundial: o depuratore. Esse pequeno aparelho parecido com um celular passaria despercebido em meio aos tantos outros eletrônicos digitais já inventados se não tivesse a exótica função de ouvir as confissões dos fieis e atribuir-lhes, em seguida, as penitências e os conselhos necessários. Através de um sistema bem similar aos utilizados nas modernas empresas de atendimento ao consumidor, a máquina é programada para identificar por intermédio da fala do usuário os pecados cometidos e, então, responder ao mesmo da maneira mais adequada de acordo com os princípios do catolicismo. A recente criação do Gli scienziati della fede trata-se, na verdade, da substituição do tradicional confessionário por um instrumento portátil que cabe no bolso e utiliza a luz solar como fonte de energia.
Em uma entrevista coletiva, o padre e cientista italiano Giuseppe Trajani, responsável pela junta inventora desse equipamento, declarou que o advento do depuratore pode ser igualado em relevância para o Cristianismo ao famoso episódio ocorrido no Mar Vermelho. Ele explicou que a portabilidade característica desse acessório religioso facilita aos milhões de católicos espalhados pelo globo o exercício da confissão, contribuindo, assim, para o aumento na prática desse dogma tão importante dentro da fé católica.
Vale destacar que atribuir a uma máquina a responsabilidade de fazer julgamentos e manter segredo soa bastante conveniente numa época na qual ouvimos, com frequência, acusações de pedofilia e petições de reconhecimento de paternidade a padres em diversas regiões do planeta. Por isso, já há quem diga que o depuratore nada mais é senão uma manobra do Vaticano com o intuito de não perder seus seguidores diante de tantos escândalos ocasionados pela falibilidade do clero.
No momento, o aparelho só está disponível para os falantes do inglês, espanhol ou italiano. Contudo, até dezembro deste ano, o Vaticano promete produzir cerca de dezessete milhões de depuratores, funcionando em vinte e três idiomas diferentes.
Frente a tudo isso, será que poderíamos dizer que Fritz Lang no começo do século passado, involuntariamente, previra o destino da humanidade no filme Metrópolis? Estaríamos todos nós, num futuro próximo, subjugados a uma deusa eletrônica que nos exigirá servidão eterna? Fica, portanto, em aberto as inúmeras previsões as quais só o tempo poderá revelar.

0 comentários:

Postar um comentário