A vaca Vitória

Era uma vez uma vaca chamada Vitória. Não... Esta não é aquela famosa que quando elimina metano pela sua cavidade anal encerra com a história. Muito pelo contrário. A nossa vaca Vitória pertencia a uma humilde família do interior do Sertão (isto não é uma redundância, ocorre que eles moravam bem longe mesmo). Era ela a responsável por sustentar a casa: fornecia o tão conhecido leite de todos os dias. A vaca amamentava, adubava e seus excedentes eram trocados ou vendidos em outros vilarejos.
Tudo que ela fazia era por amor à família e tudo que esta fazia era explorá-la. Assim, todos seguiam felizes (ao menos era o que aparentava).
Um dia, a Vitória avistou o Bandido. E, mesmo de longe, este touro forte e malvado, que botava medo em qualquer gente, conseguiu roubar seu coração. Vitória estava encantada, aquilo que sentia, certamente, era paixão. O Bandido não era de esperar por muito tempo, mas ela não podia deixar sua família passar por tormento; ficou nessa e não terminava com a indecisão: “fugir ou não?”.
E a vaca foi pro brejo. Vitória não resistiu, afinal era vaca.
E a família foi pro brejo. Ficaram desesperados. Ou arranjavam outra vaca, ou morreriam no interior daquele sertão. Mas, eles sabiam que nenhuma vaca seria como Vitória. Portanto, parecia iminente a tragédia que lhes esperava.
No brejo da vaca, tudo ia muito bem. O Bandido sempre por cima e a Vitória sempre embaixo. E isso é derrota? Que nada! A vaca bem que gostava. Passado um tempo ela até emprenhou. No começo, o touro gostou, pois as tetas da vaca ficaram mais gordas. No meio, a vaca estava gorda por causa da gestação. No fim, o Bandido abandonou-a, alegando falta de atenção.
Os bezerros nasceram. Vitória estava muito feliz, mas não tinha com quem compartilhar. Sentiu muita saudade de sua família e, lembrando do ditado ‘O bom filho a casa torna’, ignorou que era vaca e resolveu voltar com os filhotes para seu antigo lar. Não sabia se a receberiam, nem se eles vivos ainda estariam para dela cuidar. Voltou.
Chegando onde morava, levou um susto. A fazenda agora era cercada, tinha árvores floridas e as crianças brincavam num jardim. Vitória, toda envergonhada, catou seus bezerrinhos e mugiu. Os pequenos a viram e os maiores, bem-vestidos, logo se aproximaram. A tudo a vaca via com estranheza, sem nada entender. Daí, o patrão falou:
- Vá imbora, vaca! Ocê só dá azar. Cundo ocê fugiu, fomo forçado a trabaiar e a nossa labuta nos enricô. Agora, ô sua vaca safada, vai cum te toro cuida da tua cria, q o dinheio aqui é meu e di minha famiia. A gente ti qué cá não. Chispa logo, sua vadia.
E ela foi-se pro brejo da desolação. A vaca Vitória soltava gases, soltava gases e nada de acabar a história. Foi ganhando vida na vida; afinal, era vaca. E assim foi vivendo, sem belo final de história.

4 comentários:

Edson disse...

Este foi DE LONGE, o melhor texto que consegui ler, da sua autoria.

Ficou MUITO, mas MUITO bom mesmo.

Leo Rod. disse...

uhmm... sei nao.


saudaçoes

Unknown disse...

Olha...O texto é ótimo, muito bom mesmo.. mas, como vc e Ed previam, não foi o melhor texto que já li de sua autoria... Me lembrou muito Classice Lispector, mas com certeza ela daria um final feliz à vaca, mesmo sozinha...
E sinceramente.. eu ADOREI essa vaca! é da minhas! ela só tinha que saber falar pra mandar aquele dono dela ir tomar no @#%$#*&¨%¨!!
RSRSRS Beijos Rapha, to com saudades!!

Gabriele Gomes disse...

Rapha,
Adorei o seu texto! Muito bom mesmo... Bjks!

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