(sem título...)

Certa vez parei pra escrever uma carta de amor: datada de um dia importante; vocativo meloso; tradicionais versos românticos... Não gostei! Sintético demais; estereótipo óbvio; sem sentimento. Resolvi, então, discorrer o amor; escrever por extenso. Neste instante sim, parei.
Questões de múltipla escolha trazem consigo a resposta (o gabarito). Está tudo ali, basta optar pela correta – o que não, necessariamente, é tarefa fácil, contudo desprendem de menor emoção. Já provas discursivas vêm em branco, exigem a resposta (o gabarito) sem te oferecer opções para escolha. Estas requerem conhecimento prévio e conciso, são amargamente mais difíceis.
Alguém conhece o amor a ponto de ser apto a discorre-lo? Disseram tantas coisas, mas nenhuma parece firmar com o gabarito oficial (vivido pelos que amam).
Precisava acertar. Decidi fazer uma carta formal, dessas que enviam ao jornal. Fui por meio desta buscar no âmago do meu conhecimento a melhor forma, as melhores palavras, até mesmos os melhores sinais pontuadores para compor a minha redação. E nada. Ao menos, pude concluir que o amor não é gramática e, é claro, está longe de ser exato. Pensei em desistir.
Não sou de fraquejar. Persisti e cheguei a declarar o amor é bobagem, futilidade. Esmoreci. Ainda bem que não me ouviram. Os amantes ficariam furiosos e os poetas sentiriam-se inúteis. Os mal-amados concordariam comigo.
Enfim, entreguei à vida meu papel em branco.
Sinto-me envergonhado. Não por ter falado de amor, mas porque não o respondi na hora que ele me perguntou.

1 comentários:

Anônimo disse...

Aaai, eu gostei desse. :D

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