TENTE ENTENDER

Meus colegas riram de mim e de dois amigos meus quando souberam que estávamos empenhados em engrenar no ramo dos negócios com algo pouco convencional. Até mesmo um desses meus dois amigos estava em dúvida quanto a credibilidade que nosso produto alcançaria no mercado, contudo ele não hesitou em participar do empreendimento.
Decidimos, então, que levaríamos nossa inovação à feira. Na verdade fomos forçados a isso por essa sociedade capitalista e visionária, a qual felizmente estamos inseridos. Criamos um plano estratégico para ajudar na divulgação do nosso produto e, por conseguinte, facilitar nossa entrada no competitivo mundo dos negócios. Estava tudo pronto para a venda.
Confesso, senti medo. Temia que zombassem de nós. Depois do intenso trabalho que tivemos, a rejeição me deixaria em estado depressivo. Compartilhei meu sentimento com esses meus amigos e eles foram categóricos ao afirmar que nós sairíamos bem sucedidos daquele lugar. Contudo, num ato de esperteza, eles puseram-me para prenunciar o produto aos possíveis compradores. Dessa forma, ficou sob minha responsabilidade o primeiro contato com nossos clientes.
Em geral, cresço quando estou diante do abismo. Acho que é dom (sou, inclusive, muito grato a Deus por isso). E assim foi. Chegou a hora. Barraca armada e estávamos lá fixados. Eu, nesse momento, disposto a tudo. E vieram os clientes. Dei início ao discurso. A princípio, houve comoção grupal: gargalharam. As pessoas pareciam não acreditar no que ouviam. Estavam perplexas. Ao menos, demonstravam interesse.
Finalmente, apresentei-lhes o morcego morto.
Guardado numa pequena caixinha de madeira grifada com um símbolo de inspirações naturais, descansava em paz aquele que seria o animal de estimação do futuro, ou o que nós desejássemos que fosse. As pessoas pareciam não acreditar no que viam. Estavam perplexas. Ao menos, demonstravam interesse.
Surgiram as primeiras dúvidas. Muitos, graças a alienação vigente no sistema global, não conseguiam enxergar as grandes vantagens em se ter um morcego morto. Tive que explicar que um morcego morto não ocuparia tanto espaço como um elefante branco nem faria tanta bagunça como um diabo da Tasmânia. Meus amigos ainda intervieram com outros argumentos que foram decisivos para a compreensão geral. Um disse que o morcego morto dispensava gastos com alimentação e adestramento. O outro ressaltou que o morcego morto dispensava gastos com higiene e veterinário. O povo estava eufórico. Eles percebiam estar diante de um animal fabuloso, que proporcionaria emoções indescritíveis sem que fosse necessário o comprometimento de toda uma vida.
Terminei dizendo que todos os atributos já mencionados não eram tão importantes quanto o último. E, nesse instante, criou-se mais expectativa. Revelei o grande segredo: o morcego morto jamais sugaria o sangue de alguém. E, nesse instante, criou-se uma frustração. Percebi que falei demais. Naquele instante o morcego morto tornou-se bom demais para ser adquirido, pois ele já estava morto e não mais mataria.

1 comentários:

Ayla disse...

aahhh o morcego morto!
a "idealisadora" dele fica feliz quando vê tanto sucesso. é, o morcego morto é o animal de estimação do futuro! =]

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